Henning Mankell é um autor multifacetado que tanto explora o género policial como se aventura pelas linhas do romance e a verdade é que muitos são aqueles que apreciam os seus policiais. Não obstante, Henning Mankell começa a conquistar fãs também nos seus romances. Estreei-me neste autor lendo precisamente um policial "O Homem de Pequim" e depois fiquei a conhecê-lo num registo totalmente diferente em "Sapatos Italianos" e confesso que apreciei a escrita nas duas narrativas apesar de se tratar de géneros literários distintos.
Agora com "Tea-Bag - O Sorriso da Esperança" voltei a reencontrar o autor no género de romance, sendo que deste vez Henning Mankell se envolve nos meandros da imigração ilegal dando-nos a conhecer pessoas que, na tentativa de fuga da miséria e opressão, se aventuram num caminho para chegar até à Suécia.
O autor traz até ao leitor esta problemática através de três personagens femininas que acabam por entrar na narrativa quando conhecem um poeta em crise e em busca de um novo projecto de escrita - Jesper Humlin.
Inicialmente, Henning Mankell traça em pinceladas seguras e reais, o estado caótico em que se encontra a vida de Jesper, tanto pessoal como profissionalmente. O leitor depara-se com um poeta cujo editor quer transformar em escritor de policiais para assim aumentar a venda de exemplares, com um poeta que se debate com uma companheira que quer ter filhos e que lhe faz um ultimato, com um poeta que vive a angústia de ter um escritor amigo que lhe fez concorrência, com um poeta que se vê a braços com uma mãe deveras peculiar e com um poeta que ainda se tem de preocupar com o seu corrector de bolsa que parece tudo menos preocupado com o seu cliente.
Em traços gerais, o leitor fica imediatamente a par da vida de Jesper Humlin e é quando este se cruza com Tea Bag e fica fascinado com o seu sorriso que se começa a adivinhar um desenrolar para a narrativa que, embora muitas vezes marcada por diálogos plenos de humor, também se reveste de uma consciência social vincada quando nos dá a conhecer os anseios destas imigrantes que se arriscam na busca de uma vida melhor na Suécia, que levam no seu coração um sonho de liberdade que muitas vezes não se concretiza.
Henning Mankell coloca a nu o que é viver na clandestinidade. O que é procurar a liberdade sem se ser realmente livre. Um sonho ensombrado pela ilegalidade que torna esta nova vida invisível e marcada pelo medo de se ser descoberto e enviado de novo para o país de origem donde se fugiu.
Ao longo da narrativa e a par da temática envolvente, o autor coloca-nos perante personagens que suscitam reacções no leitor. Se por um lado, podemos considerar o poeta Jesper Humlin um pouco irritante e inseguro, não marcando inicialmente, de forma forte a sua presença, a verdade é que por outro, este personagem masculino mais subtil dá espaço para que as três personagens femininas centrais ganhem relevo e contem as suas histórias e vivências, ao mesmo tempo que Jesper Humlin vai conseguindo crescer ao longo da narrativa.
Assim, em "Tea-Bag - O Sorriso da Esperança", o autor Henning Mankell coloca-nos perante um tema que nem sempre é explorado na literatura e simultaneamente, consegue dar voz aos imigrantes ilegais, aos seus anseios, aos seus sonhos, aos seus medos, aos seus passados e às suas experiências únicas, sendo que a narrativa acaba por tornar claro o futuro incerto das muitas pessoas que se aventuram na clandestinidade.
Em suma, Henning Mankell brinda o seu leitor com um romance sério, onde os momentos de humor tornam o ambiente mais leve sem deixar de suscitar reflexões deveras pertinentes e íntimas.
CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!
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