segunda-feira, 19 de maio de 2014

"A Casa Negra" (Peter May): OPINIÃO!

"A Casa Negra" do autor Peter May seduziu-me pela sua sinopse e pela sua capa que nos levam a imaginar que vamos entrar numa leitura obscura, sombria e única. E finda a leitura não posso deixar de mencionar que a minha intuição estava perfeitamente correcta: este livro da Marcador é sem dúvida um thriller recheado de segredos, recantos e nuances

Mais do que um típico policial centrado na investigação criminal, "A Casa Negra", primeiro volume da Trilogia Lewis, é um thriller focado nas personagens, onde sobressai um apurado retrato de uma comunidade encerrada em si mesma. Afinal, a Ilha de Lewis é um dos locais mais recônditos da Escócia e viver numa ilha isolada e centrada nos seus ideais e tradições tem o seu efeito nos seus habitantes. 

A par do retrato de uma comunidade, o autor Peter May traz até ao seu leitor um conjunto de personagens, sendo que os seus passados vão sendo desvendados gradualmente, ao mesmo tempo que nos vamos apercebendo que o passado tem o seu impacto muito próprio no presente.

Fin Macleod viveu na Ilha de Lewis enquanto jovem, tendo sempre em si o desejo de fugir daquele lugar escuro, de ser livre num outro sítio com uma outra mentalidade e forma de estar, renascer noutra vida deixando o passado para trás. Agora em adulto, Fin é polícia e é a sua profissão que o vai levar de volta à Ilha de Lewis. Fin esteve envolvido na investigação de um crime e quando um outro crime, com o mesmo modus operandi, é cometido na Ilha de Lewis, Fin é chamado para avaliar se estes crimes estão relacionados e se o autor é o mesmo. Esta investigação vai levar Fin ao seu passado e vai levá-lo a reencontrar muitos daqueles que marcaram a sua infância naquela ilha.

Através da sua escrita repleta de descrições e de elementos muitos visuais, que colocam o leitor no centro da própria acção, o autor Peter May, a par da investigação criminal em curso, leva-nos até às personagens, sendo que Fin começa a conhecer um lado novo daquelas crianças que conheceu na sua infância e que eram os seus amigos de brincadeiras ou inimigos de discussões e aventuras perigosas. E é à medida que vamos sentindo um aprofundar de relações e de laços afectivos construídos na infância que vamos também entendendo o seu peso na investigação actual.

Através de uma narrativa que varia entre passado e presente, sem se tornar confusa, começamos a conhecer Fin de uma forma mais profunda e intensa e é o facto de o irmos conhecendo enquanto criança que nos leva a estabelecer uma empatia muito especial com esta personagem. Ao mesmo tempo, o autor Peter May mostra-nos Fin no presente, as suas relações, os seus sentimentos, a história da sua família e certos acontecimentos na sua vida conferem-lhe uma humanidade muito forte.

Em "A Casa Negra", é inegável que a verdadeira essência da narrativa está nas personagens: são os seus segredos que acabam por influenciar toda a acção e, como tal, apercebemo-nos que cada uma delas, à sua maneira, tem um impacto próprio no desenrolar da narrativa.

A escrita do autor aliada a um enredo por vezes pesado e inquietante, contribuem para que o leitor tenha uma sensação de urgência em avançar nas páginas, revelar segredos, deslaçar fios de mentiras e omissões e chegar à verdade.

O retrato psicológico que é feito sobre cada uma das personagens é simplesmente impressionante e leva-nos a conhecê-las até ao mais fundo do seu ser e da sua alma. Embora possamos ter as nossas desconfianças no que toca ao autor do crime que levou Fin, de volta, até à Ilha de Lewis, a verdade é que o autor Peter May cria um desfecho final que, decerto, não passará pela cabeça de nenhum leitor. Eu fiquei boquiaberta com as páginas finais, com a revelação da verdade. O autor cria uma tal envolvência psicológica através do seu enredo e constrói uma narrativa tão marcante que seria de esperar que o final não conseguisse bater a qualidade mostrada ao longo das páginas, mas a verdade é que o autor supera-se no final brindando o leitor com um misto de choque e perplexidade. 

Basicamente, Peter May conquistou-me com este seu livro "A Casa Negra" deixando em mim uma curiosidade e ansiedade imensa até que chegue o segundo volume desta trilogia. O leitor tem de estar preparado para uma leitura pesada e, por vezes, negra para conseguir absorver toda a excelência e todo o alcance desta narrativa: das suas verdades, das suas mentiras, dos seus elos e segredos, segredos esses que por vezes tentamos apagar para nos auto-preservar, mas que quando regressam à luz do dia mudam a nossa vida para sempre.

CLASSIFICAÇÃO: 6. Excelente!

3 comentários:

Clarinda disse...

Deixaste-me curiosa Diana!

Bjs

Diana Barbosa disse...

Gostei imenso! Recomendo :)

Bjs

Aroma dos Livros disse...

Recomendo não só a quem adora policiais, mas também a quem se interessa pela Escócia. Muito bem escrito.