Pedro Garcia Rosado já tem vários livros publicados, mas "Morte com vista para o mar" foi a minha estreia. A minha escolha recaiu sobre este livro, porque a sua sinopse me intrigou e, integrado no Desafio Literário 2014: Autores Portugueses e de Língua Portuguesa, iniciei esta leitura, que dá início à série "As Investigações de Gabriel Ponte", com interesse e expectativa.
O ponto de partida da trama começa imediatamente com um crime absurdamente violento onde as descrições vívidas e intensamente visuais tornam a cena chocante e inquietante. Alberto Morgado, professor catedrático e especialista em Direito, é barbaramente assassinado à machadada na sua casa nas Caldas da Rainha e a inspectora da Polícia Judiciária de Lisboa - Patrícia Ponte - é chamada para ficar responsável por este caso. Por que é que é a Polícia Judiciária de Lisboa que fica com este caso e não a Polícia Judiciária de Leiria, já que as Caldas da Rainha pertencem ao seu distrito? Será que por trás desta morte se encontram motivações profundas?
Para a auxiliar no caso, Patrícia Ponte decide recorrer ao seu ex-marido e inspector reformado da Polícia Judiciária - Gabriel Ponte. Gabriel também vive nas Caldas da Rainha e essa proximidade do local do crime poderá ser útil nas investigações.
Patrícia Ponte que tinha sido aluna de Alberto Morgado e com quem tivera um caso amoroso, sabe que o professor estava a investigar um caso de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado com a construção de um grande empreendimento turístico nas falésias da Costa Atlântica: será que o professor sabia demais e foi silenciado por esse motivo ou será que uma morte tão cruel teve uma motivação passional?
Tendo como cenário de fundo as Caldas da Rainha e as suas paisagens magníficas de natureza, mar e beleza, o autor Pedro Garcia Rosado, através de capítulos curtos divididos em sub-capítulos com visões de diferentes personagens, vai-nos pondo a par das investigações e lança o leitor numa leitura repleta de suspense e de adrenalina.
Através de uma escrita directa, fluída e sem floreados, o autor coloca-nos perante uma narrativa onde sobressai um apurado e realista retrato da sociedade portuguesa onde nas linhas e até mesmo nas entrelinhas se lêem os meandros da corrupção, dos esquemas de lavagem de dinheiro, dos subornos e dos jogos de interesse no mundo político. Ao mesmo tempo, e através da personagem de Filomena Coutinho, jornalista de profissão, o autor coloca-nos perante o poder dos interesses e dos "grandes" sob os meios de comunicação social.
O factor do autor ter sido jornalista, bem como assessor e consultor de comunicação confere à sua narrativa e ao seu enredo um grau de credibilidade mais profundo e intenso.
A forma como Pedro Garcia Rosado nos vai dando a conhecer as personagens, marcando-as com passados misteriosos e segredos, acaba por lhes conferir uma profundidade e uma densidade deveras cativante, pondo a nu as suas relações pessoais e deixando por desvendar outras peças do puzzle nos volumes seguintes da série.
Ao debruçar-se sobre uma vertente mais pessoal das personagens, para além da investigação criminal em si, o autor enriquece a narrativa tornando-a multidimensional, sendo que cada personagem tem o seu background, os seus lados obscuros, as suas vivências e o seu papel essencial no desenrolar da trama.
O registo policial da narrativa é marcado por diálogos credíveis onde a acção decorre com celeridade e, embora a identidade do autor da morte de Alberto Morgado, não seja imprevisível e absolutamente surpreendente, já que as peças da verdade se vão revelando gradualmente, é inegável que o autor consegue agarrar o seu leitor numa envolvência de mistério forte.
Tendo sido a minha estreia no autor Pedro Garcia Rosado, fiquei absorvida pela sua escrita, pelo ritmo da acção e pelas personagens tão reais, cheias de defeitos e fragilidades e tão credíveis, pelo que fiquei ansiosa para me embrenhar nas linhas do segundo volume - "Morte na Arena" - e descobrir ainda mais sobre as personagens principais desta série (Gabriel Ponte, Patrícia Ponte e Filomena Coutinho) e aprisionar-me num novo enredo aliciante.
CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!
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