"O Estrangeiro" de Albert Camus foi o clássico escolhido para o mês de Setembro e conta-nos a história de Meursault, personagem principal deste livro que vagueia pela vida como se de um espectador externo se tratasse...quase como se fosse um estrangeiro dentro da sua pele. É sem dúvida esta forma peculiar de estar na vida que faz com que Meursault não seja devidamente compreendido pelos outros que o rodeiam.
Meursault não chorou no enterro da sua mãe, não demonstrou o sofrimento que um filho deveria sentir pela perda daquela que lhe deu a vida e quando, num momento mais tardio da narrativa, mata um árabe, acaba por ser condenado à morte, não pelo seu crime em si mas por não ter derramado lágrimas pela morte da sua progenitora.
Numa primeira parte do clássico acompanhamos a vida de Meursault marcada pela morte da sua mãe, pelo caso tórrido com Maria e pelo convívio muito particular com outras personagens especiais deste livro. E eis que na segunda parte nos deparamos com um homicídio, um Meursault que não sabe explicar porque matou e, sobretudo, vemo-nos perante um grupo de "juízes" (jurados e sociedade em geral) que não hesita em condenar o comportamento aparentemente frio de Meursault. É que Meursault não mostra arrependimento e, embora este posicionamento perante a vida possa inicialmente parecer estranho ao leitor, a verdade é que à medida que nos envolvemos na leitura começamos a perceber que esta forma de estar prende-se essencialmente com o facto de Meursault só entender a vida se se comportar de acordo com a verdade, com aquilo que acha correcto e real.
O leitor poderá questionar-se: mas será que não seria melhor se Meursault fingisse arrependimento ou derramasse umas lágrimas de tristeza pela sua perda? Se conseguisse mentir certamente os outros sentiriam compaixão por si e não seriam tão severos no seu julgamento.
"O Estrangeiro" de Albert Camus, através desta personagem tão especial, constrói uma crítica intensa à sociedade, aos julgamentos que muitos de nós fazemos de forma automática e aleatória quando nos deparamos com alguém que parece afastar-se do comportamento que é esperado. Quem é diferente e não corrompe a sua integridade, nem faz uso da mentira para simplificar a vida, é posto de lado e sobre si recaem logo julgamentos que podem acarretar um carácter severo como acontece com Meursault que é condenado à morte.
Em suma, o clássico "O Estrangeiro" apesar de ser um livro pequeno com poucas páginas, é um livro que não deixa de ser grande pela narrativa que encerra e pela mensagem que transmite ao leitor.
CLASSIFICAÇÃO: 4. Bom!
Sem comentários:
Enviar um comentário