O início de uma nova leitura é sempre uma aventura: a sinopse à partida pode levantar uma ponta do véu, desvendar um bocadinho da história, despertar a atenção do leitor e deixá-lo na expectativa, mas a verdade é que o alcance de um livro vai sempre muito mais além da sua sinopse, daquilo que ela nos revela nas entrelinhas e é essa surpresa constante, esse virar página atrás de página e a descoberta de algo novo que faz com que a leitura se torne nessa aventura, numa viagem que pode envolver mais ou menos consoante o enredo, a narrativa e a própria magia da escrita do autor, mas a verdade é que ler um livro novo é sempre uma revelação.
A sinopse do livro "O Despertar do Mundo" do autor Rhidian Brook deixa-nos antever, de forma muito subtil, o que poderemos encontrar encerrado nas suas páginas, mas a verdade é que assim que vamos avançando na leitura uma outra dimensão nos atinge: estamos perante um cenário de pós-Segunda Guerra Mundial, numa Alemanha que perdeu a guerra e que vê o seu país dominado por outros países, onde os ingleses tentam reconstruir uma Alemanha destroçada, perdida da sua identidade e violentada pela fome, pela miséria, pela destruição e pela tristeza.
O Coronel inglês Lewis Morgan assume primeiramente o papel de destaque como protagonista: está encarregue de repor a ordem e a paz, na tentativa de reconstruir a Alemanha e eis que é colocado perante uma situação que pode tornar-se desagradável: é-lhe destinada uma casa, pertencente a um arquitecto alemão - Lupert que vive com a sua filha adolescente, Freda e, para tomar posse dessa habitação, este pai e filha terão de deixar aquele que sempre foi o seu lar, lugar das suas vivências, emoções e recordações. Numa situação que tem tudo para ser complicada, o altruísmo e a personalidade do Coronel Morgan sobressai quando toma uma decisão inédita: propõe que esta família alemã continue a habitar no segundo andar da sua casa, enquanto que Lewis Morgan e a sua família (a esposa Rachel e o filho Edmund) irão viver no primeiro piso da mesma. No leitor gera-se, quase automaticamente, um formigueiro de expectativa: será que esta partilha da casa entre inimigos - ingleses e alemães - irá ter bom resultado?
O leitor quando inicia esta leitura sabe que esta história é inspirada nas experiências verídicas do avô do autor Rhidian Brook o que confere ao desfolhar das páginas uma autenticidade muito envolvente, sendo que o autor nos leva por uma Alemanha dividida pelos vencedores, por uma Alemanha derrotada, onde ficamos a conhecer a posição dos vencedores e dos derrotados: se, por um lado, poderíamos pensar que os ingleses vibram por terem vencido a Alemanha e agora assumirem um papel de superioridade a verdade é que isso não acontece: até aos vencedores a guerra arrancou pedaços importantes das suas vidas (o próprio Coronel Lewis Morgan perdeu o seu filho mais velho por causa da guerra), deixando marcas emocionais e psicológicas profundas naqueles que a vivenciaram e, por outro, poderíamos pensar que os alemães se ressentem pela ocupação inglesa no seu país, mas a verdade é que muitos são os alemães que vibram por se verem livres do governo fascista, não se tendo nunca identificado com os seus ideais.
Assim, o autor consegue, através da sua escrita, desenhar com traços fortes e, simultaneamente, emotivos, um retrato fiel da realidade vivida tanto por ingleses como por alemães, ao mesmo tempo que nos oferece um conjunto de personagens, todas elas com vivências muito próprias, com sofrimentos muito únicos e com formas de se comportar distintas.
"O Despertar do Mundo" consegue ser uma narrativa que perturba o leitor por toda a crueldade e tensão que põe a nu e, ao mesmo tempo, uma narrativa que emociona ao tornar claro a humanidade de certas personagens, humanidade essa revelada através de pequenos gestos.
O autor Rhidian Brook constrói um enredo repleto de emoção, onde dentro da história principal surgem outras tantas histórias secundárias, sendo que com o decorrer da narrativa tudo se conjuga de forma significativa, presenteando o leitor com uma história intensa de dureza e de amor.
Toda a envolvência histórica, bem como a credibilidade das personagens, das suas vidas, das suas histórias, dos seus passados e dos seus presentes, das suas mágoas e das suas alegrias, levam o leitor por uma leitura apaixonante carregada de tensão e de perdão.
Concluindo, "O Despertar do Mundo" do autor Rhidian Brook é sem dúvida nenhuma uma leitura que não deixará o leitor indiferente, onde as marcas emocionais e psicológicas da guerra são postas nas palavras de forma intensa, visível e inquietante e onde as relações afectivas e as dinâmicas estabelecidas conferem um colorido único à trama.
CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!
Sem comentários:
Enviar um comentário