Escrever uma crítica nem sempre é fácil. Terminamos a leitura, fechamos o livro, olhamos para a capa, pensamos sobre o que sentimos, se gostamos ou não e se gostamos o que foi que nos tocou e depois tentamos buscar as palavras certas para exprimir a nossa opinião, para partilhar com quem nos segue num cantinho chamado "blogue" o que nos emocionou, se julgamos que certo livro merece ser lido por outros, entranhado no coração de outros leitores por aí espalhados e depois as palavras começam a fluir, na tentativa de não revelar demasiado sobre as linhas que percorremos, tentando manter a surpresa, as pequenas nuances emocionais que devem ser descobertas por cada um ao seu ritmo. E, por vezes, chegamos ao fim de uma crítica e desejamos somente ter feito justiça à obra de um autor.
É assim que me sinto, incerta, querendo ser capaz de transmitir a beleza d' "O Olhar de Sophie" da autora Jojo Moyes na sua totalidade. Se eu acho que todos os leitores irão sentir o mesmo que eu aquando desta leitura? É óbvio que não! E porque não? Porque cada leitor, com os seus gostos e preferências, terá uma visão diferente sobre esta história. O momento em que desfolhar as páginas deste livro irá determinar o seu olhar, a emoção com que recebe esta narrativa. Há inúmeros factores que nos influenciam quando fazemos leituras, mas é inegável que "O Olhar de Sophie" tem tudo para agradar à maioria dos leitores: a mim agradou-me e muito! Depois de ter lido "Viver depois de ti" fiquei apaixonada pela autora e este seu mais recente romance só vem cimentar a sua capacidade extraordinária de construir narrativas que conseguem envolver o leitor num abraço doce e apertado.
Não julguem que "O Olhar de Sophie" é um romance banal, daqueles muito cor-de-rosa. Não! Não é não! "O Olhar de Sophie" revela-se uma narrativa que nos faz viver o passado e sentir o presente, que nos dá como presente personagens que nos marcam, que nos tocam, que nos fazem sorrir e aguentar a emoção, que nos dá a conhecer a dureza da história e a sorte de sermos felizes.
À partida poderíamos pensar erradamente que Sophie e Liv são duas mulheres que, em tempos diferentes, viveram histórias distintas, sem nada a relacioná-las, mas a verdade é que entramos na leitura, inicialmente a tentar apreender o que a autora Jojo Moyes nos vai trazer, a tentar perceber quem são aquela personagem e a outra, as suas vivências e relações e, depois, aos poucos, vamos mergulhando numa narrativa que nos faz percorrer passado e presente, com transições claras e suaves, onde um retrato de Sophie ganha um destaque inesperado.
Sophie é uma mulher que vive numa pequena vila francesa ocupada pelo exército alemão, corre o ano de 1916 e experimentamos o ambiente de guerra, de tensão e pressão, de fome e de dureza e é neste contexto que Sophie revela a sua personalidade, a sua atitude forte e corajosa conquista-nos e mesmo vivendo privações, esta mulher sobressai. Édouard, o marido de Sophie, foi obrigado a integrar um grupo que se encontra a lutar na Frente, mas para trás deixou um quadro pintado da sua bela Sophie, um quadro onde o olhar de Sophie parece ter vida, parece querer falar, um quadro que guarda em si a essência de Sophie e que acaba por despertar a atenção de um comandante alemão, atenção essa que quase se torna uma obsessão e que determina o desenrolar de vida de Sophie.
Já no presente conhecemos Liv, uma mulher que viveu um grande amor e que fica viúva, dona de uma casa enorme onde as recordações do marido e do seu casamento estão presentes. Liv ainda não ultrapassou esta perda, mas eis que surge um novo homem na sua vida - Paul - que vai mudá-la para sempre. É que Liv recebeu, como prenda de casamento do seu marido, um retrato: retrato esse que é o retrato de Sophie, que se encontra pendurado no seu quarto. Ao conhecer Paul, Liv começa a ver renascer em si sentimentos que julgava nunca mais voltar a sentir depois da morte do seu marido, mas quando o quadro é reclamado pelos herdeiros de Édouard e Paul, como representante da empresa está com este caso, a relação entre Liv e Pau sofre um abanão nos fracos e recentes alicerces da sua nova relação e Liv tem de decidir: valerá a pena arriscar tudo só para ficar com um quadro ou este sentimento de amor por Paul é mais importante?
À medida que me fui embrenhando na leitura não pude deixar de constatar que a autora Jojo Moyes revela uma capacidade de sedução na sua escrita que aprisiona e faz com que o leitor se perca nas linhas esquecendo a noção das horas e vivendo a narrativa com um realismo e uma intensidade muito especial.
A autora transporta o leitor no espaço e no tempo da narrativa fazendo-o experimentar uma mistura de texturas emocionais através de personagens que vibram cheias de força e atitude, mas também de emoção.
Na primeira parte da narrativa Sophie é inegavelmente a protagonista da acção e se inicialmente somos confrontados com atitude e também com sentido de humor, gradualmente vamos sendo conquistados por uma mulher que embora cheia de coração, usa a sua razão para se manter a si e à sua família a salvo da crueldade levada a cabo pelos alemães que ocupam a pequena vila onde vive.
Através de uma escrita simultaneamente delicada e directa, a autora Jojo Moyes faz um retrato autêntico do drama vivido durante este período histórico marcante, revelando uma capacidade extraordinária para perturbar o leitor com a dureza vivenciada durante a primeira guerra mundial e, ao mesmo tempo, o consegue emocionar durante breves episódios onde sobressai um nível de humanidade surpreendente, tanto nos franceses que experimentam a ocupação alemã, como nos próprios alemães que se vêem impelidos a representar o seu país mesmo não concordando com tanta brutalidade.
Jojo Moyes dá vida a personagens capazes de suscitar reacções contraditórias no leitor em momentos diferentes da narrativa e se, por vezes, sentimos o nosso coração apoiar e empatizar com certas personagens, outras vezes há em que discordamos das suas acções e escolhas.
Em suma, depois de páginas e páginas de emoção, relações, obstáculos, surpresas e envolvência histórica, eis que chegamos a um desfecho final verdadeiramente pleno onde pequenos mistérios são revelados e onde passado e presente se fundem, de forma plena, cada peça se encaixando no seu sítio e dando um olhar abrangente da plenitude desta narrativa.
CLASSIFICAÇÃO: 6. Excelente!
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