segunda-feira, 4 de agosto de 2014

"O Jogo de Ripper" (Isabel Allende): OPINIÃO!

Na minha adolescência iniciei um livro de Isabel Allende - "Paula", mas como na altura ainda não era uma leitora assídua, as férias acabaram e o livro ficou por terminar. Entretanto à minha estante chegaram "O Caderno de Maya" e este "O Jogo de Ripper" que foram ultrapassados por outras leituras, até que no mês passado, a Estefânia do blogue "Uma Biblioteca aberta" me sugeriu esta leitura (podem ler a sua opinião sobre este livro aqui) e, como tal, levei o livro comigo para as férias e a verdade é que fiquei agradavelmente surpreendida com a escrita da autora e todo o enredo construído ao longo das páginas.

Na altura em que este livro foi lançado, destacou-se o facto de ser o primeiro policial escrito pela autora Isabel Allende  e sendo eu apreciadora desse género literário não pude deixar de ir espreitar a sinopse que me deixou curiosa: mãe (Indiana) e filha (Amanda), com duas personalidades distintas e duas posturas completamente díspares perante a vida, uma série de crimes que ocorrem em São Francisco e um grupo de adolescentes que se envolve num jogo online - Ripper - cuja mestre é Amanda e que tentam, através dos seus raciocínios e mentes inteligentes, desvendar quem anda a assassinar pessoas.

É inquestionável que a premissa inicial para o livro "O Jogo do Ripper" se reveste de uma criatividade marcante e, como tal, embrenhei-me na leitura. Isabel Allende, numa fase inicial do livro, que ocupa mais de metade do livro, debruça-se sobre cada uma das personagens, sejam elas principais ou secundárias, sendo que a narrativa se faz de descrições intensas que nos permitem conhecer as personagens de forma profunda, aspecto esse que permitirá uma maior e total compreensão de todo o alcance da narrativa aquando da segunda fase do livro que se foca na investigação propriamente dita dos crimes. 

Esta divisão entre "descrição das personagens" e "investigação policial" faz com que a leitura não se revista da celeridade característica dos policiais puros, mas a verdade é que a escrita da autora consegue envolver, mesmo assim, o leitor.

Amanda, sendo filha do inspector encarregue pelas investigações deste conjunto de crimes, acaba por ter acesso a informações privilegiadas e, desta forma, em colaboração com os seus companheiros de Ripper, onde o único adulto envolvido é o avô de Amanda, conseguem ir tecendo raciocínios e teorias no que diz respeito a estas mortes. Em cada morte parece que o assassino deixa uma mensagem e este aspecto intriga os elementos de Ripper e leva-os a construir uma teoria que acabará por ajudar o Departamento de Homicídios a resolver esta investigação.

A par de Amanda e da sua paixão pelos livros policiais, ficamos a conhecer a sua mãe Indiana, cuja personalidade é bem distinta. Indiana é um espírito livre, que se dedica às medicinas alternativas e que se debate entre dois pretendentes completamente opostos. 

Numa narrativa que consegue ser simultaneamente romanceada e repleta de suspense, Isabel Allende conduz-nos por um enredo feito de teias de personagens com vivências muito próprias e distintas, cujas personalidades complexas e profundas enriquecem página a página, levando o leitor por uma leitura cativante e misteriosa.

Além da vertente de romance e de policial, a autora confere a este livro, uma aura de misticismo que segundo outros leitores é uma marca sua e a verdade é que esta força presente na sua narrativa acaba por agarrar o leitor.

E é quando chegamos à investigação dos crimes em si e os vários fios de uma rede intrincada se começam a deslaçar que começamos finalmente a perceber estas mortes. As motivações para os crimes são muito bem exploradas por Isabel Allende que nos consegue traçar um retrato perfeito da mente por detrás das mortes. Passo a passo e, envolvidos por uma narrativa repleta de suspense, vamos compreendendo crime a crime e a motivação por detrás de cada morte, onde a envolvência psicológica abrilhanta esta narrativa apaixonante.

Quando Indiana desaparece, o caso torna-se pessoal e Isabel Allende lança o seu leitor numa ansiedade curiosa e crescente até à revelação da ligação entre os crimes e ao desvendar do autor dos crimes, num desfecho que se faz de surpresa e que se revela inesperado e distinto dos finais habituais. 

Em suma, Isabel Allende conquistou-me com "O Jogo de Ripper" graças à profundidade que confere às suas personagens, ao pormenor que dedica às suas descrições que se revestem de importância essencial para a plena compreensão do alcance da narrativa, à mistura doseada entre romance e policial, à envolvência temporal e espacial que coloca o leitor no centro da acção e à carga psicológica presente no enredo.

CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!


Sem comentários: