Ler sobre relatos de um período da História marcado pela morte e por atrocidades indescritíveis é sempre uma experiência complexa. Tentar-me colocar na pele de qualquer uma das pessoas que viveu a experiência de um campo de concentração é-me absolutamente impossível. Viajar pelas páginas de um livro sobre este período atroz da História é, por si só, uma aventura que magoa, que marca e que não se esquece.
"Tempo para falar" traz até nós o relato de uma sobrevivente de Auschwitz: Helen Lewis, que nesta narrativa coloca toda a sua vivência, os seus sonhos, as suas aspirações, a destruição das mesmas quando é deportada para o campo de concentração. Num relato que nos é trazido pela autora na primeira pessoa, o leitor questiona-se como um ser humano é capaz de infligir tanta dor e sofrimento a outro ser humano. Mas Helen Lewis também nos mostra outra perspectiva: guardas do campo de concentração que moldados pelos ideais da época e incapazes de se rebelarem contra os mesmos por causa do medo, tentam fazer o melhor que conseguem face a circunstâncias tão complexas.
Através de uma escrita crua, mas simultaneamente serena, Helen Lewis traz até nós a sua história sem rancor. Perante os olhos do leitor ficam o medo, a miséria, a fome, a doença e a morte, mas eis que noutros momentos, surge uma luz de bondade proveniente de onde menos se espera. O trajecto de Helen Lewis foi feito de dor e também de sorte. Surgem traços de humanidade repentinos na narrativa que acalmam um pouco a experiência de ler um livro deste género.
Ao longo de "Tempo para Falar", a voz de Helen Lewis não se altera. A sua serenidade mantém-se em todas as páginas, contem-nos elas atrocidades, infernos e pesadelos ou breves episódios de humanidade e de esperança.
Apesar da serenidade constante neste testemunho de Helen Lewis, a narrativa reveste-se de uma carga emocional profundamente intensa que perturba o leitor e o faz sentir a necessidade de não deixar cair em esquecimento este período macabro da História para que terrores destes não se voltem a repetir nunca mais.
"Tempo para Falar" de Helen Lewis é sem dúvida nenhuma um testemunho vívido do Holocausto que traz até ao leitor uma experiência de leitura simplesmente única e comovente, ao mesmo tempo, que nos presenteia com uma história de coragem, sobrevivência e renascimento.
CLASSIFICAÇÃO: 5. Muito Bom!
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