A capa de "Não digas nada" por si só desperta a atenção do leitor e faz-nos questionar que mistérios estarão escondidos nas páginas deste livro de Mary Kubica. A sinopse apenas faz crescer a curiosidade e a vontade de nos atirarmos numa leitura que promete ser intensa e cheia de suspense.
Mia Dennett, filha de um juiz de sucesso (James Dennett) e de uma figura do jet set (Eve Dennett). Mia Dennett, uma jovem que sempre tentou distanciar-se desta vida privilegiada e que é uma simples professora de artes visuais. De repente algo inesperado acontece na vida de Mia quando decide sair de um bar com um homem que acabou de conhecer: Colin Thatcher. Mia é raptada naquele que parece ser um esquema para extorquir um resgate valioso à família Dennett. Mas o plano inicial é alterado quando Colin decide aprisionar Mia numa cabana para os proteger da policia e dos criminosos que o contrataram.
Em "Não digas nada", a narrativa é-nos trazida pelas vozes de Eve (a mãe de Mia), Inspector Gabe Hoffman (responsável pela investigação do rapto de Mia) e Colin (o raptor de Mia) num esquema que se faz de "Antes" e "Depois" do rapto de Mia. Esta alternância entre "antes" e "depois" e as diferentes perspectivas das personagens permite-nos ir conhecendo Mia e a sua família e as investigações, bem como quem é afinal Colin. E possibilita-nos ainda conhecer uma Mia antes do rapto e uma Mia completamente diferente depois deste acontecimento traumático. A forma como a autora coloca em evidência o impacto que este rapto teve em Mia acaba por conferir uma carga dramática intensa a uma narrativa já de si bastante cativante.
Além disso, esta estrutura inteligentemente arquitectada permite-nos conhecer os medos e anseios das personagens, as suas inseguranças e sonhos, bem como as suas dinâmicas relacionais onde fica bem visível que por detrás de uma capa de perfeição se esconde na verdade uma família Dennett que vive de aparências. Acresce ainda que a parte da narrativa feita pela voz de Colin nos dá uma perspectiva social completamente díspar daquela onde se insere a família Dennett onde é posto a nu o background desta personagem que longe de ser um privilegiado, cresceu num ambiente familiar desestruturado e de fraca condição social. Não obstante, este background, Colin acaba por revelar uma ligação profunda à sua mãe e acaba por surpreender o leitor à medida que o vamos conhecendo de forma mais detalhada.
É inegável que a autora consegue prender-nos a uma leitura que se faz de uma narrativa repleta de mistério e suspense e à medida que vamos acompanhando a relação que se estabelece entre Colin e Mia numa cabana isolada começamos a entrar num enredo repleto de uma aura psicológica que atrai e nos faz tentar analisar esta dinâmica peculiar entre raptor e vítima.
Neste que é o livro de estreia de Mary Kubica, a carga psicológica que está patente em cada virar de página e que coloca em suspenso o leitor à medida que a acção se vai desenrolando faz com que seja uma estreia deveras cativante e provoque no leitor a ânsia de ver mais livros seus publicados por cá. A escrita fluída, mas vincadamente psicológica confere à narrativa uma intensidade própria que lança o leitor numa leitura quase compulsiva até ao epílogo onde uma revelação simplesmente inesperada deixa o leitor boquiaberto.
CLASSIFICAÇÃO: 6. Excelente!
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