"No Canto Mais Escuro" da autora Elizabeth Haynes tem daquelas sinopses que a meu ver cativam automaticamente, sobretudo aqueles leitores que apreciem thrillers psicológicos repletos de tensão. Só que quando entramos nas páginas de "No Canto Mais Escuro" somos confrontados com uma tão forte carga dramática e com uma tão acentuada aura de tensão que ficamos abalados, tentando recuperar o equilíbrio, ao mesmo tempo que nos esforçamos para manter o pé no chão e não nos deixarmos afectar pela intensidade do livro.
Assim que me envolvi nas primeiras páginas de "No Canto Mais Escuro" as primeiras palavras que vieram à minha mente para classificar este livro foram: perturbador e inquietante e esta sensação foi adensando-se mais e mais ao longo da leitura, fazendo-me encolher e temer o que viria a seguir.
Numa narrativa que alterna entre o passado e o presente, vamos ficar a conhecer Catherine Bailley, uma jovem gestora de recursos humanos que no passado se envolveu com Lee Brightman, um homem possessivo, dominador e, acima de tudo, doentio, ao mesmo tempo, que vamos tendo vislumbres do presente de Catherine: o impacto que esta relação passada doentia teve em si, nomeadamente, no que toca ao seu estado psicológico.
Quando somos remetidos para o passado assistimos à fase da conquista, do enamoramento e à construção de uma relação de namoro onde pequenos gestos que inicialmente são interpretados como "ele gosta mesmo de mim pois quer-me só para ele" e "oh ele deve gostar mesmo de mim para ter ciúmes" se vão transformando em possessividade e vão minando a auto-estima de Catherine, levando-a a ver-se aprisionada numa relação que sabe errada e doente, mas da qual não se consegue libertar.
Assim, "No Canto Mais Escuro" remete-nos para uma dinâmica relacional repleta de loucura, domínio, perversidade e violência, relação essa que acaba por transformar a feliz e independente Catherine numa jovem com a auto-estima destruída que no presente vive cheia de medo, medo esse que a leva a realizar constantemente um conjunto de rituais de verificação com o objectivo de diminuir a sua ansiedade e sentir-se mais segura, sendo que a forma como a autora Elizabeth Haynes elabora o retrato do transtorno obsessivo-compulsivo e o seu impacto na vida de Catherine confere uma riqueza acrescida à narrativa.
A autora Elizabeth Haynes cria um enredo tão real que chega a arrepiar pela sua veracidade, porque de uma forma ou de outra todos nós já experienciamos algum tipo de controlo ou sabemos de relações próximas que se revestem de posse e abuso.
O jogo psicológico que Lee desenvolve, de forma arquitectada, inteligente, sem deixar pistas, fazendo com que Catherine seja considerada louca, manipulando os seus amigos e roubando-lhe a sua rede de apoio são de um realismo que chega a ser perturbador.
"O facto de ainda estar apaixonada por ele, pelo lado gentil e vulnerável que ainda existia algures dentro dele, era apenas uma parte da explicação: havia também o medo terrível do que ele poderia fazer se eu tomasse alguma atitude que o provocasse. Já não se tratava de me ir embora. Tratava-se de fugir. Era questão de fugir".
Esta perversidade de uma pessoa se ver envolvida numa relação onde a sua auto-estima foi tão minada e alterada que a leva ao ponto de se culpar pelas reacções coléricas do parceiro, pensando "se eu não lhe tivesse dito aquilo ou daquela forma, ele não se teria aborrecido" deixam o leitor a arder de raiva, tentando por um lado perceber que a ausência de um atitude, de um ponto de final na relação se deve à auto-estima destruída, mas por outro não conseguindo entender como alguém se mantém numa relação desse tipo.
"No Canto Mais Escuro" é sem dúvida uma narrativa que suscita as mais variadas reacções no leitor e, embora leitores mais susceptíveis possam sentir dificuldade em avançar na leitura por causa do grau de tensão dramática e manipulação psicológica, a verdade é que a mim esta narrativa me agarrou desde a primeira página.
Narrativas com carga psicológica fascinam-me enquanto leitora, visto a Psicologia ser a minha área de formação académica e, como tal, "No Canto Mais Escuro" para mim afigura-se como uma narrativa com uma envolvência extraordinária, onde as relações, as dinâmicas e os comportamentos carregam o livro de uma riqueza soberba.
A possibilidade de assistir ao passado, à transformação de uma pessoa e da sua personalidade em resultado de uma relação emocional e de ver a sua evolução no presente, a forma de se relacionar com novas pessoas, a dificuldade em confiar, a luta com o transtorno obsessivo-compulsivo e o tratamento enviam sem quaisquer reservas "No Canto Mais Escuro" para a minha lista de livros preferidos de 2013.
CLASSIFICAÇÃO: 7. Absolutamente Fantástico!
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