Para quem leu "Irmã" como eu, a expectativa para este segundo livro da autora Rosamund Lupton era enorme.
Finda esta leitura não posso deixar de referir que "Irmã" é "Irmã" e "Depois" é "Depois". Os livros têm temáticas completamente diferentes, assim como narrativas distintas.
A meu ver, "Irmã" tem um acção mais célere enquanto que "Depois" reúne um núcleo de personagens mais extenso, o que aliado a uma narrativa muito particular, confere uma maior riqueza no que toca a relações, sentimentos, vivências pessoais e motivações comportamentais e psicológicas.
A adolescente Jenny é apanhada num incêndio na escola, a sua mãe Grace grita e corre para a tentar ir salvar e a partir deste acontecimento único e traumático, a autora Rosamund Lupton leva-nos por uma história onde a narrativa é elaborada sob uma forma muito particular, forma essa que pode interferir com a perspectiva mais céptica de alguns leitores, mas ultrapassado esse choque inicial, somos envolvidos por uma leitura simultaneamente de suspense e humana.
Por causa deste incêndio Grace e Jenny vêem-se confrontada por uma situação única que além de as afectar muito directamente, transforma toda a dinâmica familiar que as envolve.
A investigação policial sobre este incêndio logo conclui que foi fogo posto e automaticamente o leitor é lançado numa rede de suspeitas questionando-se quem foi o culpado e quais as suas motivações.
Como as entradas no colégio interno eram controladas, o leitor é levado a desconfiar dos membros da escola, nomeadamente, professores, auxiliares, pais e alunos adensando-se assim o suspense e o mistério.
Quem será o culpado? E o que o terá levado a pôr fogo na escola? Jenny foi apanhada no incêndio: será que o culpado tinha intenção de a magoar?
Além da névoa de mistério e suspeição, em "Depois", a autora Rosamund Lupton coloca em evidência as relações familiares, as dinâmicas, a descoberta do Eu e do outro em resultado de um evento traumático.
A autora Rosamund Lupton consegue surpreender-nos com a revelação do culpado: a verdadeira identidade do culpado só é revelada perto do final do livro e as suas motivações afiguram-se-nos verdadeiramente inesperadas.
Em suma, "Depois" apresenta-se-nos sob uma narrativa particular, com uma escrita densa e uma acção mais pausada, pelo que a verdadeira beleza do livro não está num ritmo de leitura frenético que agarra o leitor, mas sim na intensidade das personagens e das suas relações.
A capacidade de apreciar "Depois" reside na forma como o leitor se posiciona perante a narrativa. É exigida ao leitor uma mente aberta, capaz de ser paciente de forma a absorver toda a riqueza humana e relacional das personagens.
CLASSIFICAÇÃO: 4. Bom!
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