sexta-feira, 7 de março de 2014

"O Culpado" (Lisa Ballantyne): OPINIÃO!

Sendo eu uma apaixonada por livros que envolvam algum mistério não é de admirar que "O culpado", romance de estreia da autora Lisa Ballantyne tenho captado a minha atenção e despertado em mim uma curiosidade intensa.

No passado fim-de-semana decidi dedicar-me a esta leitura e senti-me imediatamente presa à narrativa nas páginas iniciais, palpitando em mim a intuição de que "O Culpado" me iria aprisionar nas suas páginas até ao fim e não me enganei.

Partindo da premissa-base de que Sebastian, uma criança de onze anos, assassinou o seu amigo Ben, de apenas oito anos de idade, o leitor fica logo inquieto quando confrontado com a questão: será que uma criança é mesmo capaz de matar outra? 

Numa narrativa que é dividida em três parte (Crimes, Culpado e O Julgamento) vamos começar por conhecer o advogado de defesa de Sebastian - Daniel Hunter - reputado advogado com experiência em casos de delinquência juvenil que se vê a braços com este caso onde, por um lado, alguns indícios colocam Sebastian junto do pequeno Ben perto da hora da sua morte e, por outro, as provas não são suficientes para afirmar a sua culpabilidade sem qualquer nível de dúvida. 

Através de saltos temporais entre a acção presente e o passado de Daniel, a autora Lisa Ballantyne brinda-nos com uma narrativa repleta de riqueza, onde se destaca não só tudo o que envolve o caso de Sebastian, mas também o passado de Daniel onde ficamos a conhecer a história de uma criança que depois de conviver com uma mãe toxicodependente e de ter andado a saltitar entre famílias de acolhimento sem sucesso, acaba por ser acolhido por Minnie, uma senhora já com experiência em acolher crianças e também ela com uma história familiar marcada pelo drama da perda, que vive numa quinta com animais e que, irá deparar-se com um Daniel que a irá testar, por meio de provocações e obstáculos, até que este começa a criar laços afectivos e a receber aquilo que nunca antes teve: segurança e o amor materno.

Assim sendo, é ao conhecermos, de forma mais profunda, o passado de Daniel que começamos a entender a afinidade que se estabelece quase automaticamente entre este advogado e o seu cliente Sebastian.

Contudo, no que se refere à relação entre Daniel e Minnie, "O Culpado" lança outro mistério sobre o que terá levado Daniel a afastar-se daquela que o amou e o adoptou como filho, sendo que acompanhamos um Daniel que, agora adulto, percepciona o passado de uma forma diferente e compreende que agiu mal, sentindo em si a culpa desta distância.

Enquanto que a narrativa referente ao presente nos coloca perante um Sebastian que, por um lado, parece mais novo devido à sua frágil constituição física e, por outro, parece mais adulto pela sua perspicácia e forma de estar perante a morte do seu amigo Ben, a verdade é que o leitor não consegue ficar indiferente perante certos comentários de Sebastian que revelam uma curiosidade inquietante no que toca à temática da morte e da violência. Mas se é certo que o leitor pode estranhar o comportamento desta criança e questionar até que ponto é inocente ou não, não deixa de ser verdade que à medida que nos vamos envolvendo na narrativa, esta vai ganhando, de forma gradual, uma intensidade e profundidade emocional e psicológica vincada, sendo que ficamos a conhecer a história e dinâmica familiar que rodeia Sebastian que nos mostra que esta criança vive numa família abastada onde os bens materiais não faltam, mas onde o afecto e a componente emocional deixa muito a desejar, remetendo-nos para os meandros complicados da negligência emocional e também da violência doméstica.

A forma como a autora Lisa Ballantyne constrói o seu núcleo de personagens e lhes confere humanidade, realismo e densidade é deveras cativante e, embora o ritmo da narrativa não seja muito célere, a verdade é que o enredo aprisiona o leitor, na ânsia de descobrir o desfecho dos mistérios que este livro envolve.

Em suma, "O Culpado" da autora Lisa Ballantyne afigura-se como um livro de estreia que será um sucesso, não só junto dos leitores apaixonados por mistérios, mas também junto daqueles que apreciam um livro que conjuga crime, psicologia e infância. As nuances emocionais e psicológicas deste livro são variadas e é inegável que leitores que sejam formados na área das Ciências Sociais (como eu) ou que tenham profissões relacionadas com crianças, irão estar mais sensíveis às temáticas abordadas, pelo que o livro conjuga, de forma magistral, dureza e emoção.

CLASSIFICAÇÃO: 6. Excelente!


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